sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A primeira vez que te vi foi nesta fotografia. Já fiz compras de muitas coisas pela internet, confesso que um cão foi a primeira. Nunca foste um cão que eu quisesse. Sempre quis um cão grande, com muito pelo, de preferência com mais de 60Kg, com beiçolas e grandes bigodes. Tu és o cão que nós pudemos ter. És o cão que eu pude comprar e na altura o mais portátil. Nunca quis uma menina, mas tu e a tua mana eram as únicas disponiveis da ninhada. Pesavas pouco mais de 2 kg, tens pêlo ralo, não tens beiçolas e os teus bigodes mal se dá por eles. Não sabia nada sobre os Teckels, calculava que um salsicha era um cão tranquilo e lanzudo. A tua timidez rápidamente se dissolveu e acho que deves de ser o cão mais traquina do mundo. Lembro-me do dia em que te trouxeram eras pouco maior que um saco de arroz. Tremias como um salgueiro ao vento. Confesso-te que não tinha dormido de tanto pensar em ti. Ias ser o meu primeiro cão, SÓ MEU. Cheguei a casa contigo ao colo, mostrei-te a tua caminha, os teus brinquedos e dei-te uma banhoca bem morninha. Comeste e adormeceste. Serena, com uma paz inocente de quem chega a um bom lar. Quando o R. te viu nem quis acreditar na tua forma tão minuscula. Dormiste conosco, na tua caminha,e nós não apagamos a luz para te vermos a dormir. Para surpresa de ambos não choraste. Não te custou saires do pé da tua mãe e mana, de uma aldeia em Trás-os-Montes, para vires para a Invicta. O teu crescimento foi uma revelação. Foi muito muito dificil ensinar-te, tu julgavas que sabias tudo e tentaste sempre levar a melhor. Deixaste-nos com o coração nas mãos com as tuas traquinices, quando te escondias a dormir na máquina de lavar a roupa, quando comias o cotão que conseguias encontrar, quanto te magoavas sem descobrirmos como... Quando fazias greve por não te apetecer comer só ração. Já te quis torcer o pescoço muitas vezes. Fizeste muitas asneiras. Já me roeste o meu soutien favorito, um vestido, perdi a conta aos jornais que desfizeste, aos xixis e aos cocós que fizeste quando não devias. Não sei quantos ganchos de cabelo já comeste, quantos retalhos da tua manta já engoliste. Já me fizeste chorar muitas vezes por me fazeres pensar que não serias capaz de mudar o teu mau feitio e indisciplina. Já estivemos muito próximos de acreditar que iriamos conseguir arranjar outra casa para ti. Continuas a deixar-me irritada quando vejo que fazes xixi quando recebemos visitas, com a tua paixão por pregos e fio de prumo, pelas inumeras vezes que nos pedes comida quando estamos a jantar, por teimares que todas as almofadas mantas e tapetes da casa são propriedade tua,por não resistires a um par de meias do R., quando te levamos a passear e acabamos sempre a correr atrás de ti e na velocidade com que nos foges quando te chamamos. Já me chateei muitas vezes com o R. por ti, pela tua inquietude. Já me escondi pelos buracos que fizeste no jardim. Se disser a alguém que mancas, para termos pena de ti, não estando magoada, ninguém se acreditará em mim. Já corei pelas vergonhas que me fizeste passar.

Não és o cão que eu queria, mas não te trocava por mais nenhum.

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